QUANTO CUSTA UM SONHO?

QUANTO CUSTA UM SONHO?
ILHEUS-BA

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Quantos deficientes você quer ver na Faculdade!

Eu tenho um filho de 24 anos e ele é portador de necessidade especial e faz uso de muletas para se locomover. Desde cedo ele soube lidar com sua deficiência e também com todo tipo de preconceito que sofreu ao longo dos seus estudos regulares.Hoje ele cursa o ultimo semestre do curso de direito.Na faculdade eu notei que as pessoas são mais compreensivas e o enxergam como mais um ser humano entre os tantos que freqüentam o curso superior e não o vêem como alguém que tem deficiência física.
Apesar da dificuldade que, geralmente, a pessoa com deficiência encontra para desenvolver suas funções, meu filho fez estagio regular na assistência jurídica do município em regime de igualdade com todos os seus colegas.
Porém o motivo desse meu artigo é o fato de que faltam apenas dois meses para a conclusão do curso e eu vejo com tristeza e indignação que ele sai da faculdade depois de cinco anos e não teve nem um só colega portador de necessidades especiais durante esses anos de graduação e pelo que vejo nem ao menos um vai assumir o lugar deixado por ele na instituição de ensino que ele estuda. Isso só reitera um pensamento que tenho cultivado ao longo dos anos em que convivo com meu filho.Penso que o maior preconceito vem das próprias famílias dos deficientes que fazem o possível para joga-los para debaixo do tapete e isola-los nos seus cubículos domésticos,excluído-os das possibilidades inerentes a todo cidadão.
É triste ver que a inclusão dos deficientes alem de depender de vários fatores tanto arquitetônicos como de atitude, ainda depende e muito mais da boa vontade dos familiares em estarem sempre prontos a acompanhar e também a sonhar juntos os sonhos dos especiais. Eu sei que é difícil e desgastante mas eu faria tudo de novo,lutaria cada luta em prol de ver os ideiais do meu filho realizados e os seus direitos básicos respeitados.Ao longo desses cinco anos em que meu filho é acadêmico de direito eu pude ver com mais clareza o quanto nós vivemos numa sociedade excludente,onde até as famílias tentam excluir o especial do sistema,se escondendo atrás da desculpa da falta de oportunidade para o desenvolvimento profissional e pessoal dos deficientes.Sinto muito por exemplo que a Associação de deficientes de nosso município nunca tenha sequer convidado o meu filho para uma conversa com os mais de mil e quinhentos associados, onde ele pudesse ser ouvido como um exemplo de que qualquer um pode e deve buscar uma graduação e um espaço na sociedade.Ai eu penso no quanto são excluídos esses especiais e como são empurrados para não participarem do desenvolvimento de nosso pais.Será que sem eles o Brasil será um pais evoluído e de todos?
Eu como pai e mais toda a nossa família sempre tivemos a consciência das potencialidades do meu filho, lutamos para que ele freqüentasse a escola formal e sempre o fizemos entender que era necessário ter interesse, ambição e ousadia e lutar sempre pelo seu processo de inclusão, mas onde estão os outro milhões de deficientes de nosso pais? Porque não estão nos bancos das faculdades assumindo a fatia que lhe é de direito e lutando por uma inclusão de fato?
Nossa família nunca esperou pelas benevolências de empresários ou do poder publico, sempre fomos à luta juntos em busca do direito individual de cada um.Meu filho precisou passar por sete cirurgias nos membros inferiores para estar nas condições em que se encontra hoje,e eu a mãe e os irmãos (Carlos Eduardo que é economista e a Izabel que é Acadêmica do Curso de Contábeis no penúltimo semestre) além de avós,tios e demais membros da familia sempre brigamos por cada milímetro do espaço que para ele foi reservado na sociedade.
Uma coisa é certa. A graduação acadêmica abriu ao meu filho novos horizontes antes inacessíveis e a sua convivência com outras pessoas e organizações o fez enxergar o quanto é importante seguir lutando para que seja reconhecido como cidadão no sentido mais amplo da palavra e muito mais cônscio dos seus direitos e deveres.
Enfim, temos encontrado muitos problemas. Acessibilidade péssima e obstáculos que vão desde a má vontade de serventuários até prédios antigos e não adaptados.Isto atrapalha nosso dia-a-dia, pois estes obstáculos não são captados pelas autoridades,uma vez que eles consideram que os deficientes não existem,mas sempre respondemos a tudo isso com um “não desistimos nunca de nossos ideais”pois somos filhos de Deus e fazemos parte deste mundo. Os especiais merecem viver cada vez melhor, desfrutar das maravilhas e belezas deste mundo até o último dia de sua existência aqui na Terra. E nas minhas conversas com meu filho desde sua mais tenra idade eu sempre lhe disse: “Seja você mesmo e aceite as pessoas como elas são, somos todos iguais enquanto ser humano, mas diferentes enquanto pessoas”.
Posso dizer no final de tudo que apesar das dificuldades e dos obstáculos tudo a nossa volta é muito bonito porque existe a diversidade e os diferentes, e sem eles o mundo seria uma mesmice sem graça, sem cor, sem aroma e sem sabor. Por isso nunca desistam dos seus sonhos.
Adem Drumond, pai de Jean Bernard I. Drumond que cursa o ultimo semestre de Direito na Faculdade Fabac em Lauro de Freitas BA no período da manhã.

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