Porteira do Tempo
De lá de dentro da gente, do ermo um pensamento sai
Quase cambaleando se largando dos outros que são comuns
Vai abrindo as eiras rompendo o silêncio rumo ao seu
intento
Ele empurra a porteira do tempo, que deixa cair dos
pedaços alguns
Se tu não sabes fique sabendo que pensamento tem alma
Que fica guardada dentro de nossa mais longínqua
invernada
Mas se quiser vem a tona pois de ficar guardado nunca
prestou juramento
Se veste com a pala da saudade e se atira com certeira flecha
atirada
No campo dos olhares perdidos é que seu retorno se constrói
É no entrevero do calçar das botas que vem o que estava
guardado no passado
O pensamento que faz o peão cambalear com a dor do era
esquecimento
Pois o ranger da porteira do tempo tem o som do mais
triste fado
Vai caindo a prisão onde as lembranças ficam presas em paredes de quatro demão
E vai ferindo o coração como bala que ao bater no peito
se abre
Assim é a porteira do tempo que abre rasga todos os
sentimentos
O seu canto é triste e cortante como o mais afiado sabre
Porteira que era fechada com a mais forte e pesada tranca
Não resiste ao dolorido trato do que estava perdido nos
confins do abandono
Se puder corte os arreios do tordilho maldoso e jogue no
abismo do uivo do vento
Porque da porteira do tempo só toma de conta o patrono.
A.S.Drumond