QUANTO CUSTA UM SONHO?

QUANTO CUSTA UM SONHO?
ILHEUS-BA

quinta-feira, 9 de março de 2017

A sabença do imaginário ou a arquitetura da mente.

Aproveito-me desse texticulo para dissertar do que  ontem a noite eu estava conversando com meu filho Carlos Eduardo, assunto esse que ao final da conversa continuou me intrigando:
“As pensamentações e o imaginário de um povo de uma região.”
Basta que nos assentemos nas esquinas, praças ou visitemos os casarios antigos de uma região e certamente seremos abordados pelo imaginário do povo que ali convivem com suas imagens e máscaras, que claramente interferem na historia e no conjunto de práticas desse povo na medida em que o tempo vai passando. As sabenças, as crenças que vão interagindo com o meio ambiente e produzindo as feições culturais, e que acabam tomando feições mais que simbólicas e passam a construir a identidade desse território.
No desenrolar do tempo o retrato de um povo acaba se afirmando na medida com que o imaginário social toma forma e identidade própria e dai o passado e a memória se sobrepõe ao registro histórico e verdadeiro.
Nessa pensamentação eu vejo a importância do imaginário popular na releitura das épocas como ricos instrumentos de construção e reconstrução das memórias do um povo de uma região, tornando-se possível perceber através desse imaginário as transformações culturais e sociais, ou até mesmo econômicas registradas na jornada do povo que ali habita.
A.S.Drumond



Quem ama o que faz não precisa de reconhecimento.

Diante do que tenho presenciado no dia a dia e também nas redes sociais eu tenho buscado entender o que se passa pela cabeça de pessoas que sentem uma extrema necessidade (quase obsessiva) de serem reconhecidas e premiadas pelo que realizam ou fingem que realizam. Creio sinceramente que isso reflete no exterior um desvio que se encontra no interior dessas pessoas. Ou seja, uma pessoa que sofreu ou sofre uma carência interior acaba refletindo essa carência na necessidade de que a reconheçam e a premiem como uma pessoa íntegra, capaz, inteligente acima da média e realizadora.
Uma pessoa que age assim a cada instante e a cada hora, necessita isso sim de amigos de verdade, família e parceiros que lhe abram os olhos contra essa conduta obsessiva e contínua, pois caso contrario essa pessoa mergulhará mais fundo a cada dia em um mar de insegurança, rompendo e destruindo definitivamente os pilares da sua autoestima.

A.S.Drumond

domingo, 5 de março de 2017

Pela janela


Pela janela dos sonhos eu vou fazendo a viajem de volta
passando por retas e curvas da estrada que leva ao passado
Tendo como companheiras as lembranças que pela estrada corta
As lembranças voam e vem pousar no meu ombro cansado.


Pela janela do mundo vou voltando o velho relogio do tempo
passa boi passa boiada e chuva grossa carregada de vento,
Passa crianças correndo nos trilhos enferrujados perdidos no relento
Tambem tem velho de terno de linho branco encardido andando desatento.


Pelo vidro encardido passa a mulher na janela do bordel
Tambem vejo o palhaço na perna de pau declamando poesia de cordel
E tem moça encantada recebendo do noivo o compromisso do anel,
No vidro empoeirado a abelha se estatela derramando seu mel.


Da janela sem cortinas eu desnovelo o novelo da estrada da vida
Presente dando lugar ao passado que vem ruminando feito boi de carro
Tem vai e vem de mendigo e tambem tem criança com cara suja de barro
Tudo vai passando e a cada curva em um pensamento e nas lembranças esbarro




Pela janela da vida tudo se escreve ainda que em linhas tortas
Já não são os olhos que trazem o fio de memorias pela velha porta
Tempo e espaço na janela do onibus da saudade é o que menos importa

O tudo se torna no nada no carro que na vida tudo transporta.
A.S.Drumond

sábado, 4 de março de 2017

VELHA MANEIRA






VELHA MANEIRA



Meu cuidado com a natureza é da mais velha maneira,
Embalando sementes na terra e as espalhando ao vento,
Abrindo cova e plantando em toda terra nua que vejo,
Dessa maneira semeio o verde e refresco meu pensamento.
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Arvore crescida nos seus galhos os passarinhos cantiga me traz
Eles formam a orquestra afinada nos quitais e calçadas da minha rua,
Entre a folhagem se destacam as flores nas suas mais variadas cores
Cada uma vestindo o vestido mais belo para a note dançar com a lua.
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Tem graviola, jaboticaba, pitanga e acerola que com seus frutos atrai,
Tambem tem romã,banana e abobra que de grande me chama a atenção.
Nas galhas dos coqueiros os macaquinhos ligeiros pula, puça e não cai,
Os gatos ficam babando doidinhos que algum escorregue e caia no chão.
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Já pensei até em plantar um pequeno parreiral da mais fina uva
Pois agora já sei que ela se acostuma até mesmo lá no mais quente sertão,
Não posse esquecer dos sabiás em bando ao nascer do sol cantando feliz,
E ao cair da tarde os periquitos que passam voando parecendo aluvião.
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Quando chega a noite vem com ela a escuridão navegando na sua nau,
Ai eu meu lembro das historias que recostada na varanda a minha avó contava
Com a mais sábia habilidade enfeitava as alegorias que ela mesma criava
Mula sem cabeça, Tapetes voadores, Grilo falante, tudo na mente ela fabricava.
Desde menino venho cuidando da natureza desta minha velha maneira,
As plantas das mais variadas sempre foram minhas companheiras de infância.
Plantar arvores no tempo de escola era atividade das mais corriqueiras
Encerro esse mote dizendo que o verde me alegra desde o tempo de criança.

A.S.Drumond

sexta-feira, 3 de março de 2017


Velha conhecida

Corri nas suas praias minhas velhas conhecidas
Das suas areias finas fiz das minhas pueris jornadas as raias
Sons de ondas batendo no quebra mar de pedras inda hoje me convidas
No meu imaginário suas espumas brancas num fechar de olhos espraias
Seu sol indiferente brilha o mesmo brilho que queimava minhas costas nuas
Quando ele se escondia entre as nuvens brancas azuladas vinha logo a lua
Com seu brilho sereno revestido dos mistérios que pela noite a dentro ia

Na barra do dia puxar as redes cheias de peixe e saciadoras da fome da gente
Ainda me invades a mente e as narinas com teu cheiro impar das marés de abril
Nasces a partir de uma ponte que atravessa o rio Almada com suas aguas escuras vertentes
Nas suas praias de águas verdes e tranquilas nos seus areais os meus passos de outrora sumiu
Me tomas como as linhas soltas segurando no céu minhas arraias empinadas nas tuas ruas
Sons de Samba de roda, pés descalços batendo ritmados no chão de materias cruas
Minhas pensamentações me indagam porque um dia de ti minha infância partiu

Hoje um paredão de concreto e pedras te afastam e separam de ti a minha presença
Meus olhos vão escurecendo e as tuas lembranças vão se distanciando lentamente
As brumas vão chegando e enchendo a mente numa grossa camada de tinta densa
As memórias se curvam no arrumar das malas e vão deixando um vazio de tom descrente
Vão se esvaindo os sons das andanças nas vielas e das festanças das velhas brincadeiras
Te procuro na velha foto daquelas que se costuma guardar no fundo das carteiras
Não te encontro mais, pois fostes na garupa dos meu infante soldadinho combatente

Mas num rasgo de sobriedade não tem adeus e o que é triste fica contente
Turbilhão de historias saem dançantes de dentro de uma rota sacola já meio rasgada
Tudo brilha como estrelinhas festejantes no céu soltas alegres e muito sorridentes
O que era sisudo, cabisbaixo e moribundo agora aceso abre a mais imensa risada
Como ressuscitados a multidão de dizeres serpenteia as tuas ruas e a procissão continua
Sai do fundo do peito o ar forte com um brado de rimas e cânticos que nunca extenua

A.S.Drumond



Pensamentações



As rimas do poeta podem ser negras, brancas, amarelas, cruéis ou adoçadas
As letras do poeta correm as estradas e dança a dança das calçadas
Os saberes do poeta provocadoramente e descansa nas almas amuadas
Os dizeres do poeta tem gosto de contragosto na arma engatilhada
O poeta é a gênese da insatisfação, das dores e das gargalhadas….
A.S.Drumond

O Ultimo voo no deserto






O ultimo voo no deserto.

Do fundo da tenda quente onde ele agora se escondia de si mesmo,ouviu o som de uma voz conhecida,desceu de sua cama coberta de pele de camelo e com as vistas já embaçadas pelo tempo e o vento do deserto pegou o seu bastão velho companheiro dos tempos de jornada no meio das tempestades e seguiu rumo ao fio de luz que se formou na entrada da tenda,foi como ver o mar e as grandes ondas quebrando a monotonia do lugar.
Como se fosse possivel a calma fazer parte da historia desse navegador das dunas do deserto que se ofereceu a ele ao longo de sua vida.Os olhos acinzentados,fruto das grandes viagens que lhe foram propostas e tambem dos desafios que vencera desde àquela noite impar em que ele nasceu.
Nos olhos outrora negros,resta agora só a sombra cálida e sem brilho...Ele vem vindo.
Tocou com as mãos calejadas os cabelos e o rosto e disse –É você mesmo? Já nem acreditava mais que você viria me ver.E com lagrimas nos olhos quase apagados abraçou e beijou seu neto que a tanto tempo não via.Durante alguns minutos só se ouviu ali o silencio e a respiração ofegante do velho tuareg.
-Eu vim te dar um abraço meu avô e matar a saudade.- - Vô, hoje eu quero que você faça festa e coma a comida melhor que puder comer,faça a melhor festa que puder fazer e beba a melhor bebida que houver e dance com todo o vigor que houver dentro de você.
- Está bem, meu filho - disse o velho tuareg –hoje vou me banhar mais cedo do que de costume,irei as dunas,onde há mais vento, e tirarei dela uma quantidade maior de vida.Hoje não voltarei mais cedo para minha tenda, atarei as minhas sandalias mais depressa e irei logo viver em grande porção essas coisas deliciosas.
Naquela manhã o sol se levantou mais cedo e partiu para as montanhas. Trabalhou arduamente cortando o céu com sua chama enorme e fez uma festa enorme, que cobriu os ombros do velho tuareg e o carregou nos ombros até o centro da aldeia.
Ainda era muito cedo. E o velho tuareg parecia um menino e bateu as mãos, dizendo:
-Venham, abram a tendas. Estou com fome e sede;meus ouvidos precisam ouvir alguma musica antes de eu partir para sempre.
Nenhuma tenda continuou fechada. O velho tuareg não estava tão cansado, seus pés faziam a areia se mexer debaixo deles enquanto dança e ria.Algumas horas depois, o sol já estava alto.Bateu novamente as mãos e disse:
-Tragam logo a comida. Preciso comer a carne mais saborosa tostada sobre o melhor fogo que a lenha já fez.
A aldeia agora era só festa e tinha esquecido completamente da solidão de outrora do velho tuareg que na noite anterior, tinha se deitado,desarrumado e que agora parecia menino arrumado para dar um passeio. Em seus olhos não havia mais a neblina do esquecimento que o deixou durante anos como uma porta da casa fechada.
Assim, o velho disse a si mesmo:
- Já é não é muito tarde para eu viver e sorrir. Correrei para as montanhas e caçarei o mais de todos os animais e trarei o maior feixe de lenha,agora tenho de novo ombros fortes pra levar cargas em dobro.
Aquele foi um dia de festa, coroado e enfeitado de festa que adentrou noite a fora.
- Vida,vida, não fecha a porta. Eu não estou cansado e olha que eu fiz festa o dia todo. Preciso festejar mais esta noite para aproveitar minhas forças.


Cansado,saciado e, vendo que podia viver novamente, o velho por uns instantes se assentou ao lado fogueira. Apesar de cansado de tanto que dançou,bebeu comeu e festejou, ainda conseguiu ficar acordado:não adormeceu logo.Acordou bem cedo na manhã seguinte, antes mesmo de sol se levantar na aurora.
Sentou-se, na sua cama olhou ao redor,viu seu neto ao seu lado,que ao vê-lo acordado disse:
- Arruma suas coisas! Deixa tua tenda e vem comigo.Comigo sempre terás o suficiente, terás uma vida tranquila.
O velho levantou-se e caminhou na direção da tenda por onde o sol entrava, andou e andou,então sentiu mais cansaço,ficou triste, com vontade de chorar, mas percebeu que não era hora de chorar. Assim, despediu-se de seu neto e o viu partir deixando um rastro de poeira no horizonte.
O tempo passava e parecia a cada dia que não acordaria novamente. Sentia frio e solidão demais para poder dormir.
Foi naquela tarde que o frio chegou e com ele a narrativa de si mesmo, como se fosse um conto, tudo o que tinha acontecido desde que se tomara por gente.
Sua historia começava a ter fim, pareceu-lhe ouvir a voz do neto outra vez, vinda de algum lugar no alto, como se saísse do amanhecer, que dizia:
- Vô olha como o céu esta lindo,me dá a sua mão e vamos correr pelas dunas.
O velho fechou os olhos e começou a subir os degraus,mas não existia
algum -pensou o velho.
- Não importa, faz o que te digo - ordenou aquela voz que não reconhecia.
O velho fez o que lhe fora ordenado.Fechou os olhos, dormiu e nunca mais acordou.
Naquela tarde ao chegar em casa, viu, no fundo dos olhos de sua mãe, lagrimas como um regato, uma coisa que pareceu lhe sufocar. Porém, no momento em que ia chorar,virou a cabeça e viu que o seu avô agora era apenas um reflexo nas lagrimas.


Estes são alguns dos episódios de uma história que nunca termina.Toma para si muitas formas. Algumas dessas formas nem sequer se intitulam

A.S.Drumond