QUANTO CUSTA UM SONHO?

QUANTO CUSTA UM SONHO?
ILHEUS-BA

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Homens meninos ( De ilusão também se vive)




Existem homens meninos que nunca crescerão por inteiro
Esvaindo-se em ousadia nunca se saem bem
Arriscam-se em desvarios que só trazem desdém
Seus projetos surgem velozes e sempre em tom passageiro.
De soslaio os contemplo, mas me intrometer não convém
Gastam a vida em frivolidades até o dia derradeiro
Ficam bebendo ilusões, sonhando o tempo inteiro
E varam pelas madrugadas cismando de olho no além.
Esse é o jeito dos homens meninos sem juízo
Talvez eles estejam certo e eu é que não tenho siso
Em me conduzir atento, comedido e prudente
Seguindo andando nos trilhos até que o fim venha
Os homens meninos são como papel e lenha
Atraídos pelas luzes da incandescente ribalta
Arroubos juvenis os conduzem com pouca vênia
O fogo das vaidades os consomem inteiramente....


A.S.Drumond

Primavera



Primavera

Uma gota de orvalho me acordou para a primavera
Beija flor me chamou para ver da flor os encantos
Borboletas coloridas vagando em quimeras
Explosão de alegria, amores e encantos

Cheiro de relva perfumando todos os cantos
Enchendo de luz os mais distantes rincões
Inspiradora estação com suas belas nuances
Vida se pronunciando em ardentes aluviões

Já ouço o som dos seus passos novamente
Chegando com a mesma força de outrora
Fazendo desabrochar a flor da pequena semente
Majestade e  beleza da primavera senhora

Cheia de imagens  de colosso inebriante
Que fluem do coração do Criador Eterno
Deleitando nos como sinfonia  radiante
Inflamando a alma de amor superno

Assim é a buganvília
Uma celebração de vitalidade e matizes
Doce floração da mais deliciosa vigilia
Que inspira a vida dos eternos aprendizes.

 Resultado de imagem para flor de romãzeira

sábado, 9 de setembro de 2017



Olhar pra...trás...traz....
Ter saudades da bola de meia...da bola de gude e do pião...faz parte...
Fechar os olhos e sentir o gosto do algodão doce...do quebra "qexo"...da pipoca na praça do coreto...faz parte...
Divagar sobre a vida de menino... correr na chuva...rasgar a calça jeans no carrinho de "rulimã"...brincar de passar anel...faz parte...
Cai cai tanajura na panela de gordura...O dólar furado...O por do sol...tudo isso faz parte...dá saudade....
Frutos e flores anunciando a primavera no meu jardim. (Jabuticaba plantada de sementinha, deu frutos depois de 6 anos). A sabedoria do homem lhe dá paciência; Prov. 19. 11

A imagem pode conter: planta, árvore e atividades ao ar livre

Que me importam as datas

Que me importam as datas....
As minhas lembranças dos meus vividos no tempo são como gaivotas voando sobre as ondas, e pelas quais não assumo qualquer compromisso em ser preciso das datas em que ocorreram.
Me dou o direito de quando conto os meus fatos vividos, trocar as datas, pois sou mais interessado nos feitos e ocorridos do que nas datas.
Ainda que os ouvintes ou leitores queiram fidelidade no tempo e espaço, eu a eles dou pouca importancia. Pra mim o que vale é a recordação, pois são elas que traduzem a experiencia vivida e adquirida no cair das areias do tempo. Sentimentos, emoções, sombras e divagações se ajuntando aparecendo ou desaparecendo depois de embarcadas na mente de quem as faz brincar de roda na ciranda das pensamentações.
A.S.Drumond
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A Bruma do Tempo



A bruma do tempo não se dissolve com o vento
Ela rompe galopando no prado de minha mente
Afundando os cascos ferrados no meu existir...
Passando por cada canto por onde passei
Chamando na espora o tordilho dos sonhos
Por mais que se feche a porta ela vem de alhures
Num estanque repentino me traz os pedaços de mim
Névoa de pensamentos com quem arguo
É como tiro certeiro que tira a razão
Um cometa temporão que chega sem pedir
A bruma do tempo é saltimbanco giramundo
Cavalinhos de carrocel onde brinquei
Vaso branco na mesa com flor de jasmim
É estrela cadente atravessando o céu bem escuro
É som de berrante na velha comitiva de boiadeiro
É cantiga de ninar que minha alma acalma
É porteira velha dos caminhos por onde passei
Tem o gosto do café no fogão de lenha da fantasia
Éssa é a bruma do tempo....
(A.S.Drumond)

A Revolução do Pensar




A revolução do pensar.

"Houve um tempo nesse País que a escola do nordestino era a roça, o caderno era o chão seco e a caneta a enxada.
Nesse tempo eu via o coronel assentado na varanda da casa grande, e não tinha alegria dentro de mim.
Adispois de muito tempo o vento mudou de síntido, e os pobre inchêro a barriga e pudéro inté istudá.
Os sinhô da casa grande cumeçaro a si acabrunhá, e buscaro de quarqué jeito essa história acabá.
Mais di uma coisa eu tenho certeza. Nóis Azeitamo as idéia, nossa arma agora é a caneta, a munição o pensar, e pra senzala nóis nunca mais há de vortá."
A. S. Drumond

terça-feira, 13 de junho de 2017

Porteira do Tempo

De lá de dentro da gente, do ermo um pensamento sai
Quase cambaleando se largando dos outros que são comuns
Vai abrindo as eiras rompendo o silêncio rumo ao seu intento
Ele empurra a porteira do tempo, que deixa cair dos pedaços alguns

Se tu não sabes fique sabendo que pensamento tem alma
Que fica guardada dentro de nossa mais longínqua invernada
Mas se quiser vem a tona pois de ficar guardado nunca prestou juramento
Se veste com a pala da saudade e se atira com certeira flecha atirada

No campo dos olhares perdidos é que seu retorno se constrói
É no entrevero do calçar das botas que vem o que estava guardado no passado
O pensamento que faz o peão cambalear com a dor do era esquecimento
Pois o ranger da porteira do tempo tem o som do mais triste fado

Vai caindo a prisão onde as lembranças ficam presas  em paredes de quatro demão
E vai ferindo o coração como bala que ao bater no peito se abre
Assim é a porteira do tempo que abre rasga todos os sentimentos
O seu canto é triste e cortante como o mais afiado sabre

Porteira que era fechada com a mais forte e pesada tranca
Não resiste ao dolorido trato do que estava perdido nos confins do abandono
Se puder corte os arreios do tordilho maldoso e jogue no abismo do uivo do vento
Porque da porteira do tempo só toma de conta o patrono.


A.S.Drumond

Desencilhando


Os passos do tordilho no tempo vai pra longe gineteando
Pelos campos brumados buscando guarida
Os cascos arrancam da terra aluvião de historia vivída 
As paisagens se transformam na medida do tempo passando
Do tropel planejado cada dia vai se afastando
No pala meio amassado tudo que passa vai cravado ficando
As neblinas das madrugadas vão apagando todos os rastros
Os brilhos vão sumindo com a cegueira do tempo impiastro
Mas continuo montado no redomão do destino
Nasci de espora cravada na virilha do tempo
Ele não me fez desistir mas não consegui domá-lo
Pois o tempo é de todos o mais forte cavalo
Não se amansa e a toda hora lhe da um tombo
Mas sempre do chão me levantei e me cravei de novo no lombo
O passar dos dias não se compara a qualquer potro
Vem chegando arrepiado e de currupio esse atrevido
E cada tempo que passa um do outro não é nada parecido
Pois cada amanhecer de Igual não existe outro
Das cavalgadas só resta a doce lembrança
Dos perfumados tempos de minha infância
Mas quando se olha pra traz se vê que ficou na distancia
O trote a cada dia vai ficando mais lento
Deixando ao longo da estrada a tralha solta no vento
A gente vai se encolhendo dentro do pelego da vida
Já não tem tanta força para se desviar da partida
A estrada vai se encolhendo junto com as pedra caida
E a gente passa a porteira do caminho sem fim...
A.S.Drumond

Filho de Aruá

Muito mais que um verso é sinonimo de Aruanã
Travando luta ferrenha crispado de dor
Na construção das sabenças tem o dom do saber
Agil como criança da historia é contador
Da brasilidade nativa ele logo se traja
É agua da cachoeira e é o voo do condor.


É o mestre que pelas etnias faz campanha
O parceiro dos de Kariri na luta por seu regresso
Que vai fazer indio velho escancarar boca nua sorrindo
Com maestria fala de muriqueira até de agua cumprida e nem cobra ingresso
Mesmo ensimesmado está constantemente lutando
Pois a refrega das ideias precisa do seu regresso
O panteão dos sonhadores faz brilhar seu o horizonte
És um Menelau na luta contra a degradação
Aguça no menor dos riachos a mais forte resistencia
Inocula a ecologia e faz novo o cidadão,
Lapida atraves da palavra sem nenhuma negligencia
De quem defende a natureza és o mais intimo irmão
Tudo que aqui eu disse é o mais certo retrato
De quem pela natureza dá sua mente como penhor
De quem ao olhar o horizonte se sente incompleto
Se deixar os poderosos lhe implantar o terror
Por tudo isso é rebelde com causa
Enfrentando as desigualdades sem ao menos perder a cor
Aruanã...
A.S.Drumond

quinta-feira, 9 de março de 2017

A sabença do imaginário ou a arquitetura da mente.

Aproveito-me desse texticulo para dissertar do que  ontem a noite eu estava conversando com meu filho Carlos Eduardo, assunto esse que ao final da conversa continuou me intrigando:
“As pensamentações e o imaginário de um povo de uma região.”
Basta que nos assentemos nas esquinas, praças ou visitemos os casarios antigos de uma região e certamente seremos abordados pelo imaginário do povo que ali convivem com suas imagens e máscaras, que claramente interferem na historia e no conjunto de práticas desse povo na medida em que o tempo vai passando. As sabenças, as crenças que vão interagindo com o meio ambiente e produzindo as feições culturais, e que acabam tomando feições mais que simbólicas e passam a construir a identidade desse território.
No desenrolar do tempo o retrato de um povo acaba se afirmando na medida com que o imaginário social toma forma e identidade própria e dai o passado e a memória se sobrepõe ao registro histórico e verdadeiro.
Nessa pensamentação eu vejo a importância do imaginário popular na releitura das épocas como ricos instrumentos de construção e reconstrução das memórias do um povo de uma região, tornando-se possível perceber através desse imaginário as transformações culturais e sociais, ou até mesmo econômicas registradas na jornada do povo que ali habita.
A.S.Drumond



Quem ama o que faz não precisa de reconhecimento.

Diante do que tenho presenciado no dia a dia e também nas redes sociais eu tenho buscado entender o que se passa pela cabeça de pessoas que sentem uma extrema necessidade (quase obsessiva) de serem reconhecidas e premiadas pelo que realizam ou fingem que realizam. Creio sinceramente que isso reflete no exterior um desvio que se encontra no interior dessas pessoas. Ou seja, uma pessoa que sofreu ou sofre uma carência interior acaba refletindo essa carência na necessidade de que a reconheçam e a premiem como uma pessoa íntegra, capaz, inteligente acima da média e realizadora.
Uma pessoa que age assim a cada instante e a cada hora, necessita isso sim de amigos de verdade, família e parceiros que lhe abram os olhos contra essa conduta obsessiva e contínua, pois caso contrario essa pessoa mergulhará mais fundo a cada dia em um mar de insegurança, rompendo e destruindo definitivamente os pilares da sua autoestima.

A.S.Drumond

domingo, 5 de março de 2017

Pela janela


Pela janela dos sonhos eu vou fazendo a viajem de volta
passando por retas e curvas da estrada que leva ao passado
Tendo como companheiras as lembranças que pela estrada corta
As lembranças voam e vem pousar no meu ombro cansado.


Pela janela do mundo vou voltando o velho relogio do tempo
passa boi passa boiada e chuva grossa carregada de vento,
Passa crianças correndo nos trilhos enferrujados perdidos no relento
Tambem tem velho de terno de linho branco encardido andando desatento.


Pelo vidro encardido passa a mulher na janela do bordel
Tambem vejo o palhaço na perna de pau declamando poesia de cordel
E tem moça encantada recebendo do noivo o compromisso do anel,
No vidro empoeirado a abelha se estatela derramando seu mel.


Da janela sem cortinas eu desnovelo o novelo da estrada da vida
Presente dando lugar ao passado que vem ruminando feito boi de carro
Tem vai e vem de mendigo e tambem tem criança com cara suja de barro
Tudo vai passando e a cada curva em um pensamento e nas lembranças esbarro




Pela janela da vida tudo se escreve ainda que em linhas tortas
Já não são os olhos que trazem o fio de memorias pela velha porta
Tempo e espaço na janela do onibus da saudade é o que menos importa

O tudo se torna no nada no carro que na vida tudo transporta.
A.S.Drumond

sábado, 4 de março de 2017

VELHA MANEIRA






VELHA MANEIRA



Meu cuidado com a natureza é da mais velha maneira,
Embalando sementes na terra e as espalhando ao vento,
Abrindo cova e plantando em toda terra nua que vejo,
Dessa maneira semeio o verde e refresco meu pensamento.
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Arvore crescida nos seus galhos os passarinhos cantiga me traz
Eles formam a orquestra afinada nos quitais e calçadas da minha rua,
Entre a folhagem se destacam as flores nas suas mais variadas cores
Cada uma vestindo o vestido mais belo para a note dançar com a lua.
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Tem graviola, jaboticaba, pitanga e acerola que com seus frutos atrai,
Tambem tem romã,banana e abobra que de grande me chama a atenção.
Nas galhas dos coqueiros os macaquinhos ligeiros pula, puça e não cai,
Os gatos ficam babando doidinhos que algum escorregue e caia no chão.
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Já pensei até em plantar um pequeno parreiral da mais fina uva
Pois agora já sei que ela se acostuma até mesmo lá no mais quente sertão,
Não posse esquecer dos sabiás em bando ao nascer do sol cantando feliz,
E ao cair da tarde os periquitos que passam voando parecendo aluvião.
.
Quando chega a noite vem com ela a escuridão navegando na sua nau,
Ai eu meu lembro das historias que recostada na varanda a minha avó contava
Com a mais sábia habilidade enfeitava as alegorias que ela mesma criava
Mula sem cabeça, Tapetes voadores, Grilo falante, tudo na mente ela fabricava.
Desde menino venho cuidando da natureza desta minha velha maneira,
As plantas das mais variadas sempre foram minhas companheiras de infância.
Plantar arvores no tempo de escola era atividade das mais corriqueiras
Encerro esse mote dizendo que o verde me alegra desde o tempo de criança.

A.S.Drumond

sexta-feira, 3 de março de 2017


Velha conhecida

Corri nas suas praias minhas velhas conhecidas
Das suas areias finas fiz das minhas pueris jornadas as raias
Sons de ondas batendo no quebra mar de pedras inda hoje me convidas
No meu imaginário suas espumas brancas num fechar de olhos espraias
Seu sol indiferente brilha o mesmo brilho que queimava minhas costas nuas
Quando ele se escondia entre as nuvens brancas azuladas vinha logo a lua
Com seu brilho sereno revestido dos mistérios que pela noite a dentro ia

Na barra do dia puxar as redes cheias de peixe e saciadoras da fome da gente
Ainda me invades a mente e as narinas com teu cheiro impar das marés de abril
Nasces a partir de uma ponte que atravessa o rio Almada com suas aguas escuras vertentes
Nas suas praias de águas verdes e tranquilas nos seus areais os meus passos de outrora sumiu
Me tomas como as linhas soltas segurando no céu minhas arraias empinadas nas tuas ruas
Sons de Samba de roda, pés descalços batendo ritmados no chão de materias cruas
Minhas pensamentações me indagam porque um dia de ti minha infância partiu

Hoje um paredão de concreto e pedras te afastam e separam de ti a minha presença
Meus olhos vão escurecendo e as tuas lembranças vão se distanciando lentamente
As brumas vão chegando e enchendo a mente numa grossa camada de tinta densa
As memórias se curvam no arrumar das malas e vão deixando um vazio de tom descrente
Vão se esvaindo os sons das andanças nas vielas e das festanças das velhas brincadeiras
Te procuro na velha foto daquelas que se costuma guardar no fundo das carteiras
Não te encontro mais, pois fostes na garupa dos meu infante soldadinho combatente

Mas num rasgo de sobriedade não tem adeus e o que é triste fica contente
Turbilhão de historias saem dançantes de dentro de uma rota sacola já meio rasgada
Tudo brilha como estrelinhas festejantes no céu soltas alegres e muito sorridentes
O que era sisudo, cabisbaixo e moribundo agora aceso abre a mais imensa risada
Como ressuscitados a multidão de dizeres serpenteia as tuas ruas e a procissão continua
Sai do fundo do peito o ar forte com um brado de rimas e cânticos que nunca extenua

A.S.Drumond



Pensamentações



As rimas do poeta podem ser negras, brancas, amarelas, cruéis ou adoçadas
As letras do poeta correm as estradas e dança a dança das calçadas
Os saberes do poeta provocadoramente e descansa nas almas amuadas
Os dizeres do poeta tem gosto de contragosto na arma engatilhada
O poeta é a gênese da insatisfação, das dores e das gargalhadas….
A.S.Drumond

O Ultimo voo no deserto






O ultimo voo no deserto.

Do fundo da tenda quente onde ele agora se escondia de si mesmo,ouviu o som de uma voz conhecida,desceu de sua cama coberta de pele de camelo e com as vistas já embaçadas pelo tempo e o vento do deserto pegou o seu bastão velho companheiro dos tempos de jornada no meio das tempestades e seguiu rumo ao fio de luz que se formou na entrada da tenda,foi como ver o mar e as grandes ondas quebrando a monotonia do lugar.
Como se fosse possivel a calma fazer parte da historia desse navegador das dunas do deserto que se ofereceu a ele ao longo de sua vida.Os olhos acinzentados,fruto das grandes viagens que lhe foram propostas e tambem dos desafios que vencera desde àquela noite impar em que ele nasceu.
Nos olhos outrora negros,resta agora só a sombra cálida e sem brilho...Ele vem vindo.
Tocou com as mãos calejadas os cabelos e o rosto e disse –É você mesmo? Já nem acreditava mais que você viria me ver.E com lagrimas nos olhos quase apagados abraçou e beijou seu neto que a tanto tempo não via.Durante alguns minutos só se ouviu ali o silencio e a respiração ofegante do velho tuareg.
-Eu vim te dar um abraço meu avô e matar a saudade.- - Vô, hoje eu quero que você faça festa e coma a comida melhor que puder comer,faça a melhor festa que puder fazer e beba a melhor bebida que houver e dance com todo o vigor que houver dentro de você.
- Está bem, meu filho - disse o velho tuareg –hoje vou me banhar mais cedo do que de costume,irei as dunas,onde há mais vento, e tirarei dela uma quantidade maior de vida.Hoje não voltarei mais cedo para minha tenda, atarei as minhas sandalias mais depressa e irei logo viver em grande porção essas coisas deliciosas.
Naquela manhã o sol se levantou mais cedo e partiu para as montanhas. Trabalhou arduamente cortando o céu com sua chama enorme e fez uma festa enorme, que cobriu os ombros do velho tuareg e o carregou nos ombros até o centro da aldeia.
Ainda era muito cedo. E o velho tuareg parecia um menino e bateu as mãos, dizendo:
-Venham, abram a tendas. Estou com fome e sede;meus ouvidos precisam ouvir alguma musica antes de eu partir para sempre.
Nenhuma tenda continuou fechada. O velho tuareg não estava tão cansado, seus pés faziam a areia se mexer debaixo deles enquanto dança e ria.Algumas horas depois, o sol já estava alto.Bateu novamente as mãos e disse:
-Tragam logo a comida. Preciso comer a carne mais saborosa tostada sobre o melhor fogo que a lenha já fez.
A aldeia agora era só festa e tinha esquecido completamente da solidão de outrora do velho tuareg que na noite anterior, tinha se deitado,desarrumado e que agora parecia menino arrumado para dar um passeio. Em seus olhos não havia mais a neblina do esquecimento que o deixou durante anos como uma porta da casa fechada.
Assim, o velho disse a si mesmo:
- Já é não é muito tarde para eu viver e sorrir. Correrei para as montanhas e caçarei o mais de todos os animais e trarei o maior feixe de lenha,agora tenho de novo ombros fortes pra levar cargas em dobro.
Aquele foi um dia de festa, coroado e enfeitado de festa que adentrou noite a fora.
- Vida,vida, não fecha a porta. Eu não estou cansado e olha que eu fiz festa o dia todo. Preciso festejar mais esta noite para aproveitar minhas forças.


Cansado,saciado e, vendo que podia viver novamente, o velho por uns instantes se assentou ao lado fogueira. Apesar de cansado de tanto que dançou,bebeu comeu e festejou, ainda conseguiu ficar acordado:não adormeceu logo.Acordou bem cedo na manhã seguinte, antes mesmo de sol se levantar na aurora.
Sentou-se, na sua cama olhou ao redor,viu seu neto ao seu lado,que ao vê-lo acordado disse:
- Arruma suas coisas! Deixa tua tenda e vem comigo.Comigo sempre terás o suficiente, terás uma vida tranquila.
O velho levantou-se e caminhou na direção da tenda por onde o sol entrava, andou e andou,então sentiu mais cansaço,ficou triste, com vontade de chorar, mas percebeu que não era hora de chorar. Assim, despediu-se de seu neto e o viu partir deixando um rastro de poeira no horizonte.
O tempo passava e parecia a cada dia que não acordaria novamente. Sentia frio e solidão demais para poder dormir.
Foi naquela tarde que o frio chegou e com ele a narrativa de si mesmo, como se fosse um conto, tudo o que tinha acontecido desde que se tomara por gente.
Sua historia começava a ter fim, pareceu-lhe ouvir a voz do neto outra vez, vinda de algum lugar no alto, como se saísse do amanhecer, que dizia:
- Vô olha como o céu esta lindo,me dá a sua mão e vamos correr pelas dunas.
O velho fechou os olhos e começou a subir os degraus,mas não existia
algum -pensou o velho.
- Não importa, faz o que te digo - ordenou aquela voz que não reconhecia.
O velho fez o que lhe fora ordenado.Fechou os olhos, dormiu e nunca mais acordou.
Naquela tarde ao chegar em casa, viu, no fundo dos olhos de sua mãe, lagrimas como um regato, uma coisa que pareceu lhe sufocar. Porém, no momento em que ia chorar,virou a cabeça e viu que o seu avô agora era apenas um reflexo nas lagrimas.


Estes são alguns dos episódios de uma história que nunca termina.Toma para si muitas formas. Algumas dessas formas nem sequer se intitulam

A.S.Drumond