Em outubro de 1982, uma pessoinha de pele branca e olhos castanhos bem vivos entraram em nossas vidas – quando o vi no berçário mais parecia o personagem do pica pau, com cabelinho espetado para cima. Comprei flores e uma caixa de charutos, além de um punhado de fichas telefônicas, providenciei a informação de toda a família e amigos, colocando-os a par de que o meu primeiro filho havia nascido.
No entanto, meu branquelo tão esperado em casa precisou ficar um pouco mais no hospital para adquirir um pouco mais de cor. Cheguei a me sentir culpado por deixar meu filho ali mais um pouco.Senti um frio na barriga quando o coloquei pela primeira vez no colo e vi a obrigação de cuidar do meu menino que dormia a sono solto na minha barriga nas noites frias de inverno em São Paulo, amei-o ainda com os olhinhos fechados. Esfomeado,chorava sempre para ser alimentado pela mãe. Como era minúsculo e arrepiado, passei a chamá-lo de “Duda’.
Um dia o mergulhei numa onda, no sol da manhã na praia da Avenida em Ilhéus, e o ‘Duda “arregalou tanto os olhos, que pensei tê-lo matado.
Era frágil e ficava com a barriga de fora jogando bola na varanda lateral de casa, quebrou a perna, quebrou o nariz. Mas ele era terrível e sapeca – ele se machucou – e curou-se, foi crescendo forte e saudável. Hoje olho pra ele grande e bonito que causa admiração. Então, passamos a chamá-lo de ‘Eduardo’. Para dar um ar mais adulto, nós o amamos.
Tudo ia muito bem com o nosso ‘Duda’, sempre brincalhão, carinhoso, ótimo filho. Vez por outra chega de viajem em casa a nos abraçar a todos, eu o admiro com a tranqüilidade do ‘senso de dever cumprido’.
Lembro-me dele e dos irmãos na praia. Na areia deitava e rolava expondo a pele branca que ficava logo cor de rosa !
Ele cresceu e foi estudar noutra cidade, e ai minha esposa teve uma enorme dificuldade para se acostumar com a distancia do seu “Duda”. Ela ficava pelos cantos,parecia que haviam arrancado um pedaço dela,e eu era o culpado dessa amputação total,mas ele cresceu como pessoa.Depois que recebeu o diploma de graduação em economia,não veio para casa,foi direto para o mestrado e a mãe continuava saudosa.
Depois veio a graduação no mestrado e a entrada no Doutorado, eu o via mais por foto, mas no meu coração continua em lugar especial dedicado a ele e seus irmãos. No entanto, há dois meses nosso estimado ‘Duda’ me ligou dizendo que ia fazer um concurso para professor de economia, mas de ultima hora “pensei eu”, novamente como de costume a dificuldade para enfrentar mais um projeto, é sempre assim pra nós, mas isso nunca nos deixou angustiados. Passamos horas viajando e chegamos quase na hora da prova, mas com nosso “Duda” não se vive altos e baixos, ele é sempre meigo, ativo, brincalhão. Fez a prova,apresentou sua aula,viemos embora.Deus agiu e nosso “Duda” é agora o professor Eduardo, meu menino que rolava no chão com os irmãos e que vinha da escola La do sitio com as suas botinhas de Mazzaropi e logo ia arrancado a camisa e correndo pela chácara onde morávamos e exibindo a pele que insistia em ser branca mesmo exposta ao sol.
Sempre soubemos que um dia eles partem para as suas próprias jornadas, mas gostaríamos que esse dia demorasse bastante, porém o dia chegou. Não consigo imaginar como me sentirei quando no final do ano por algum motivo um deles não estiver à roda da mesa, e, me ligar dizendo que não deu pra vir e no outro dia não os encontrar esparramados pela casa há dormir o dia quase todo! De uma coisa tenho certeza, ele nunca deixará de ser o meu “Duda”, da brincadeira com os irmãos, de me dar ‘susto’ quando tive de buscá-lo no hospital com nariz quebrado do jogo de bola, dos filmes que assistimos dividindo a mesma tela de computador, ou mesmo da mão amiga presente no dia que tive a parada respiratória ou mesmo quando discordamos nos nossos pontos de vista, nossos momentos agradáveis que ainda vamos desfrutar. Que bom, ‘Duda’ que você sempre será meu filho e estará sempre conosco!
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