Muito vinho e musica tomou conta do ambiente na casa cor de rosa da Rua em frente ao Mercado municipal durante boa parte de minha infancia.
Eu tinha uns 5 anos de idade quando mudamos para lá e ainda não existia o prédio do mercado.No imenso areal eu caminhava de volta da escola com meu caderno e lápis (aquele que vinha com uma borracha em forma de toca vestida nele),e em minha trajetória que não durava mais que dez minutos eu tecia diálogos intermináveis com os meus amigos imaginários e me embaralhava no pouco arsenal de palavras misturados na minha cabeça por minha professora “Dona Neném”que nos enchia de ditados que eram por mim copiados com meu lápis verde sextavado da Johann Faber,e ela exigia letras super bem traçadas nas folhas de oficio dupla especificas para caligrafia e que depois de corrigidas eu as enchia de desenhos do meu mundo imaginário.
Em meu quintal o muro era apenas uma fronteira onde índios, Cowboys,Savanas africanas com seus animais que de um lado para o outro das montanhas ou das cidade fugindo ou perseguindo.Tudo era uma festa.Eu nem imaginava que lá fora dos limites da minha casa cor de rosa a ditadura perseguia e matava quem se atrevesse a contestar a dura realidade,porém eu continuava, tranquilo em minhas investidas e construindo cidades de sonhos que reviravam minha mente de menino.
O meu medo e dos meus pares infantes era de um comunismo que nossa mestra “travestia” de “chupadores de sangue das criancinhas.O medo era estampado muito mais no rosto a cada transmissão do repórter “Esso” e na hora do jantar quando no Radio a “hora do Brasil” repassava as notícias do dia.
Eu me lembro , pequeno ainda,balançando entre as mangueiras e tirando manga verde para comer com o sal que os colegas traziam escondido de casa,pois se a professora descobrisse a “surra” em casa era certa.Eu ainda ouço ressoar entre as palmadas de minha mãe aquela famosa frase “Manga com sal da anemia”. E a minha vida engatinhava entre o imaginario dos sonhos e as musicas e vinho da casa cor de rosa. Ah,a música o vinho! Essa era a grande paixão dos adultos daquela casa.
Quantas vezes me vi imaginando meus dedos como os dedos finos de Joãozinho e Maria quando a gente brincava no areal ate o sol ir embora e a lua vir fazer coro com nossa algazarra que só parava naqueles primeiros vocábulos de minha mãe “entra logo e vai tomar banho pois jê é tarde”.Eu entrava “emburrado” e antes do banho ficava ouvindo aquele rádio enorme de madeira onde eu ouvia pela primeira vez as musicas que depois iriam furar os discos de vinil que minha mãe tocava e retocava na vitrola da sala.
Na casa cor de rosa o som que se ouvia podia ser Roberto Carlos em Ritmo de Aventura,Dilermando Reis,Luiz Gonzaga e os Hits da Jovem Guarda além de Chet Baker e João Gilberto,que meu filho mais velho bate o pé e diz ser fruto de meu imaginário.A vitrola automática de 12 discos espalhava pela casa música para todos os ouvidos.Mas na minha idade eu não gostava do que eles gostava.Eu queria mesmo era ouvir as histórias narradas nos disquinhos compactos “A invasão do espaço,As historias épicas e Os sete anões”.Mas uma musica em especial eu gostava;era “Dio come te amo”.O que menos me importava era a letra pois eu ficava mesmo era sonhando com foto da “Gigliola Cinquete”que foi minha primeira paixão,depois dela veio a Vanderleia a Sofia Loren e por ai vai.
O domingo no cinema era para meu pequeno coração o combustível dos sonhos para a semana toda.No banco da escola se comentava o filme de domingo,contado por cada um de uma forma diferente. Mas confesso que até hoje eu sinto saudade do Teixeirinha cantando dramático no filme Coração de Luto. Aquilo me impressionava.
Quarenta e poucos anos depois, eu confesso que nunca vou esquecer a emoção de ver um compacto da Copa de 70 em “Technicolor”.O coração parecia que ia pular do peito a cada lance dos craques de ouro,e olha que era só repetição.Eu vi mais de oito vezes e a emoção parecia só aumentar.
Da casa cor rosa só ficou a saudade ressoando nos acordes da vitrola e das noticias na hora do jantar...(Adem Drumond)
quinta-feira, 23 de maio de 2013
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