Enquanto rabisco sobre as almas que encontrei pelo caminho, vou remoendo as impressões que colhi pelo ao longo do tempo. Faltam dois meses e deis dias para que atravesse o muro que me separa do meio século de vida.
Esse tempo tem sido tempos de digitalizar mentalmente as fotografias que o tempo se encarregou de embaçar, pois é assim mesmo que o tempo sempre faz. Mas só isso seria reduzir a minha expectativa a pouco demais. Esperar os 50 anos é antes de tudo para mim a espera de um amigo. A celebração de tudo que aconteceu em cada degrau dessa escada, que à medida que pisamos um a um os degraus, um novo vislumbre nos é reservado. Rememorar um almoço juntando os amigos mais próximos, o balé dos peixes no aquário, o gosto quente do peixe com pimenta ao som das ondas quebrando no quebra mar, o som da areia estalando nos pés descalços ao longo da Praia, o Fox 100 chacoalhando todo e quase me matando de medo na decolagem. Uma coisa que estou aprendendo aos quase 50 é que passei a escolher com mais dedo aqueles que desejo ter à volta em seus momentos alegres e tristes. Daí entendo o caráter mais íntimo da ocasião.
Decidi nesses últimos tempos então um convívio maior com meus Betas e minhas Plantas, pois neles encontro o retrato dessa data com mais propriedade, já que a tranquilidade com que os Betas se movem entre as pedras e a magnitude das Plantas rumo ao horizonte descrevem com maestria o que não tenho como descrever, ou seja: fazer 50 anos.
Quanto mais me olho no espelho reforço a ideia de que na caminhada vivi mais acertos do que erros e senti cada minuto com uma leveza que para mim nunca foi peso: a expectativa surge na forma de oportunidade que se abre a uma consequente nova vida, como sempre um horizonte próximo de dias ou o piscar de olhos, é como olhar lá no fundo do mar quando mergulhamos e não sabemos se vamos subir ou se vamos ficar. São meus olhos fixos num jardim de romãs ou uma amoreira verde com frutos bem doces ou meus coqueiros majestosos de recorte suave rompendo o céu, ou os sons matinais trazidos pelos pássaros nos ramos da acerola carregada, a mesma vida que era vivida, até então, não será a mesma na mesma vida. “É de fato um privilegio esperar meus 50 anos”
A.S.Drumond
